terça-feira, 17 de junho de 2014

A Interpretação do Grito Negro



    O poema “Grito Negro” foi escrito por um famoso poeta moçambicano: José Craveirinha. Neste poema, assim como em suas outras obras, ele procura expressar e descrever as dores e o desejo dos moçambicanos. Especialmente nessa, observaremos o sentimento de revolta e sofrimento dos negros em relação aos colonizadores portugueses.
            Grito negro
Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.
(https://www.youtube.com/watch?v=p6Ug9c2riCU - Vídeo de José Craveirinha lendo o poema)

             Para entendermos, devemos nos remeter aos acontecimentos históricos de Moçambique. Lembra-se das fases do ouro e de marfim e, mais tarde, a de escravos? Nesse período, os portugueses penetraram para o interior do país a fim de dominar as áreas produtoras desses itens que os interessavam. Então, para que a exploração fosse possível, escravizaram a população. As palavras “carvão” e “patrão” no poema se referem, consequentemente, ao escravo moçambicano e ao colonizador português.



                 Destacaremos também outro fator, o racismo. Os negros sofreram muito preconceito e por isso ele é o “carvão”. Sua cor de pele também influenciou em todo esse processo de colonização, por serem considerados inferiores em relação a seus colonizadores, os brancos.
                  Além da palavra “carvão” significar que o moçambicano é a fonte de energia para seu “patrão” e essa ideia foi ressaltada no verso “e fazes-me tua mina, patrão”, onde mostra a importância do negro para Portugal, pois eles são sua fonte de riqueza.
                  Já no verso “mas eternamente não, patrão”, vemos que o negro não aceita sua condição de escravo e sente a necessidade de reverter essa situação. Mudar sua realidade. A conjunção “mas” exprime um impulso à transformação social. Eles têm consciência de sua importância e sabem que são capazes de vencer a guerra e o preconceito.
                  No fim do poema, é dito “tenho que arder/ queimar tudo com o fogo da minha combustão” onde transmite a ideia de que agora os moçambicanos serão o carvão e usarão sua energia para queimar os portugueses e vencê-los.
                  Com isso, concluimos que a Literatura Moçambicana, principalmente José Craveirinha, ressalta a importância da cultura e a história do país, permitindo o povo ver que a sua cultura não estava sendo valorizada e respeitada, levando-os a lutar pela independência. A Literatura permitiu aos moçambicanos pensar a respeito de seus direitos, suas próprias forças e se mobilizar.
                  Até hoje o poema mantém sua atualidade com a globalização. A nova forma de colonização à África e africanos, onde querem se libertar da dependência econômica, da corrupção e das guerras.
                  

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